Produção de notas de R$ 20 na Casa da Moeda, no bairro de Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro
Entre as pessoas acima de 59 anos, geração menos afeita à tecnologia, apenas 25% vão à agência bancária para movimentar conta; Pix já é meio de pagamento mais usado entre todas as faixas etárias
Por Alex Braga
Está cada vez mais difícil ver aquela bolsinha de moedas da vovó ou a pessoa que anda com a carteira cheia de notas. Com o avanço da digitalização financeira, o brasileiro está tendo cada vez menos contato com o dinheiro físico, como mostra pesquisa do Serasa. Na geração Baby Boomers (pessoas acima de 59 anos), apenas 25% têm o hábito de ir à agência bancária para movimentar a conta. Embora levantamentos do Banco Central (BC) afirmem que o uso de papel-moeda tem um crescimento contínuo e estável, a tendência, segundo a instituição, é que no futuro possa haver uma queda na circulação.
Na primeira pesquisa de uma série intitulada “Serasa Comportamento”, o instituto ainda apurou que 80% dos Baby Boomers têm o aplicativo do banco baixado no aparelho celular e realiza consultas e transações online. O levantamento revela também que o Pix, criado há quase três anos, já é o meio de pagamento mais utilizado entre todas as gerações de consumidores. E o estudo ainda mostra que quase metade dos brasileiros, cerca de 44%, da geração Y e Z (entre 18 e 41 anos), não tem mais o hábito de sacar dinheiro.
Toda essa intensa mudança na forma de executar pagamentos nas transações bancárias tem seus desafios, dado o grande índice de exclusão digital na população brasileira. Porém, para o cofundador e CEO da Jazz Tech, José Roberto Kracochansky, essa transformação no campo da tecnologia financeira traz benefícios a todos. “Se pensarmos no passado recente, com a epidemia da Covid, o que teria acontecido sem os meios de pagamentos digitais? Antes de mais nada, temos a conveniência e acessibilidade que permitiram a economia continuar girando e com segurança também, sem a necessidade de transportes de valores em períodos de limitação na movimentação de pessoas”, afirma. “A inclusão financeira também é um ponto relevante. Sem a digitalização, programas sociais nunca teriam funcionado de forma eficiente e abrangente durante a pandemia”. Ainda sobre desigualdade social, o CEO da Jazz Tech afirma que a utilização de meios já difundidos na sociedade é uma boa maneira de propor inclusão. “Considerando a penetração da telefonia celular e os programas sociais que já utilizam meios digitais de pagamento, conforme comentei acima, a digitalização é uma forma de inclusão, e não exclusão social”.
Porém, nem tudo são flores neste caminho da digitalização. Os crimes cibernéticos e o vazamento de dados são uma realidade cada vez mais presente na vida dos cidadãos. Para combater isso, Kracochansky afirma que deve se promover educação. “A digitalização é um caminho sem volta, e a questão dos crimes cibernéticos, infelizmente, são uma nova realidade e, além de muito investimento em tecnologia pelos players do setor, a população está sendo preparada para se proteger. Como exemplo, temos os grandes bancos investindo em campanhas publicitárias para orientação. Se, no passado, as agências bancárias receberam portas eletrônicas, estamos enfrentando uma nova realidade necessária para enfrentarmos os crimes digitais”, exemplifica.
Sobre a pequena parcela que ainda resiste as mudanças tecnológicas, o Banco Central explica que estas pessoas optam pelo uso do dinheiro físico por ser mais prático e fácil no controle dos gastos. “Os brasileiros associam o dinheiro à facilidade do uso, à facilidade de controlar os gastos e de obter troco e desconto. O uso do dinheiro tem relação com fatores como a bancarização, o acesso aos meios digitais, informalidade da economia, entre outras.” Além disso, o BC não pretende encerrar a produção de papel-moeda no futuro, pois pretende continuar atendendo à parte da população que prefere esta forma de pagamento.