Investimentos em pavimentação em MS somam R$ 532 milhões, mas obras isoladas levantam dúvidas sobre integração das rodovias estaduais.
Escrito por Alisson Ficher CPG Click Petróleo e Gás
O início de um novo ciclo de investimentos públicos em infraestrutura rodoviária marcou o anúncio do Governo do Estado, feito por meio de uma edição extra do Diário Oficial publicada em 30 de junho de 2025.
A previsão oficial é de R$ 532 milhões em investimentos para asfaltar trechos de quatro rodovias estaduais e garantir acesso à futura fábrica de celulose da Arauco, em Inocência.
As ações, financiadas em grande parte pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), devem levar asfalto novo a 131 quilômetros de vias.
No entanto, a maior parte dos projetos cobre apenas partes das rodovias, deixando trechos inacabados ou isolados.
Obras de pavimentação: novos trechos e recursos do BNDES
Conforme o portal Correio do Estado, a mesma edição do Diário Oficial revelou a abertura de licitação para pavimentação de 38 quilômetros no lote três da MS-316, ligando Inocência a Chapadão do Sul.
Este trecho conta com investimento de até R$ 146 milhões, também provenientes do BNDES.
No entanto, os dois outros lotes restantes dessa rodovia de 110 quilômetros ainda estão na fase de elaboração de projeto, com licitação prevista apenas para o próximo ano, conforme informações da Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul).
Ao se somarem as licitações publicadas tanto na edição normal quanto na edição extra do Diário Oficial, o total anunciado para obras em rodovias supera R$ 678 milhões, sendo mais de R$ 650 milhões provenientes de financiamento federal.
O destaque desse pacote de licitações é a recorrência de projetos que pavimentam apenas trechos específicos, muitas vezes resultando em estradas asfaltadas que terminam longe de centros urbanos ou pontos de integração logística, cenário que tem chamado a atenção de especialistas e população local.

Investimentos em rodovias e impacto regional
Este projeto é o único, entre os cinco principais, que prevê a pavimentação integral da rodovia, facilitando o deslocamento e encurtando em 28 quilômetros a distância entre Campo Grande e Dois Irmãos do Buriti — que passa de 115 km para 87 km com a conclusão das obras.
Além disso, a conexão favorece o acesso de Campo Grande a cidades como Nioaque, Jardim e Bonito, uma vez que a MS-347, entre Dois Irmãos do Buriti e Nioaque, também passa por processo de asfaltamento.
Apesar do anúncio das licitações, as empresas vencedoras ainda precisarão desenvolver o projeto básico e executivo das obras, mesmo após processos licitatórios lançados em 2024 para essa finalidade.
As propostas para a maioria dessas obras devem ser abertas em 29 de setembro, um ano após a liberação dos recursos do BNDES.
Licitações em andamento e trechos isolados
Outras licitações anunciadas preveem investimentos de até R$ 101,9 milhões para pavimentação de 23 quilômetros da MS-134, rodovia que liga a MS-040 à BR-267, próxima ao distrito de Casa Verde.
O governo defende que essa via será estratégica para atender aos futuros interesses da fábrica de celulose da Bracell, em Bataguassu.
Contudo, a pavimentação alcançará menos de um terço do total da rodovia, que tem cerca de 82 quilômetros, sem prazo definido para conclusão dos trechos restantes.
Outro projeto relevante, publicado no Diário Oficial, prevê o investimento de até R$ 91,4 milhões na pavimentação de 31 quilômetros da MS-245, ligando a BR-163 à MS-338, nos municípios de Bandeirantes e Ribas do Rio Pardo.
A licitação, marcada para 18 de julho, contempla apenas um dos quatro lotes previstos.
A primeira etapa, de 15 quilômetros, já foi executada, restando outros dois trechos, que juntos somam aproximadamente 35 quilômetros.
Esta rodovia liga a MS-080, no município de Corguinho, ao distrito de Taboco.
Para finalizar a ligação asfáltica completa, seria necessária a pavimentação de outros 23 quilômetros, ainda sem previsão de licitação.
Acessos industriais e obras em diferentes regiões
Além das obras financiadas pelo BNDES, o Governo do Estado prevê até R$ 26,9 milhões de investimento, com recursos próprios, para dois acessos à fábrica de celulose da Arauco, em Inocência, localizada às margens do Rio Sucuriú.
A execução dessas obras pretende viabilizar o escoamento da produção e melhorar a logística local.
Destaca-se a pavimentação de 63 quilômetros da MS-320, que conectará a MS-377 à BR-158, facilitando o acesso entre Inocência e Três Lagoas.
O investimento pode chegar a R$ 276 milhões, e a empresa responsável terá que elaborar o projeto executivo do trecho.
Diferente de outros projetos, este trecho deve ser pavimentado integralmente.
Outro destaque é a licitação para o asfaltamento de 17 quilômetros da MS-444, nas proximidades de Selvíria, orçada em R$ 39,9 milhões.
Pavimentação no sul do estado e desafios logísticos
No extremo sul do Estado, os investimentos também alcançam a pavimentação de rodovias.
A previsão é de R$ 106,1 milhões para 32 quilômetros da MS-289, no município de Amambai, metade do necessário para interligação com a MS-180.
Além disso, duas licitações estão em andamento para mais de 36 quilômetros de asfalto na MS-380, rodovia que conecta a zona rural de Ponta Porã à BR-436.
Questionamentos sobre eficiência e integração
A concentração dos recursos do BNDES em trechos específicos, a proximidade com o período eleitoral e a publicação de pacotes de licitações em edições extraordinárias do Diário Oficial motivam debates sobre critérios de escolha e prioridades das intervenções.
Os editais estabelecem, em sua maioria, a necessidade de posterior elaboração dos projetos executivos, o que pode postergar a conclusão das obras e prolongar o uso de recursos públicos em segmentos rodoviários ainda incompletos.
Diante do quadro apresentado, quais impactos a fragmentação dessas obras pode trazer para o desenvolvimento regional e para a eficiência do uso de recursos públicos em infraestrutura?