16 de julho de 2025 06:46

Aliada diz que ministro condicionou emprego a campanha; ouça áudio

Gerente do Postal Saúde, dos Correios, disse ter conversado com ministro para manter empregos, “porém, terão que trabalhar na política”

A gerente regional do Postal Saúde no Pará (plano de saúde dos Correios), Janaína Sampaio Dias, enviou um áudio para seus subordinados no qual informa que negociou com o ministro do Turismo, Celso Sabino, a permanência deles no cargo, “porém vocês vão ter que trabalhar comigo na política” e, em 2026, ano de Eleição Geral, “não tem dia, não tem hora”. No segundo mandato de deputado federal, o ministro deve disputar uma vaga ao Senado.

A coluna teve acesso ao áudio enviado por Janaína no grupo de WhatsApp dos funcionários do Postal Saúde-PA, em 23 de dezembro de 2024. Ela relata a conversa que teve com o ministro Celso Sabino.

“A notícia ruim é que vocês também vão ter que trabalhar na política, tá? Hoje foi deixado bem claro que não é para mexer com ninguém, que não é para tirar ninguém da Postal, tá? Expliquei para o Celso (Sabino, ministro) que é uma operadora de saúde, que eu não tinha como tirar ninguém para colocar alguém sem experiência. Ele entendeu. Porém, vocês vão ter que trabalhar comigo na política”, disse ela na mensagem.

“Então, essa é a parte ruim. Por quê? Esse primeiro ano (2025), a gente vai trabalhar normal. Vamos fazer política e tudo. Normal. Porém, ano que vem (2026), a gente não tem dia e não tem hora. Certo? E é isso. A notícia ruim para vocês. Como ele (ministro) falou hoje, a gente é um grupo. A gente está aqui para crescer, mas eu preciso do apoio de todo mundo. Então, a notícia ruim é essa: que vocês não vão ter só a Postal, como vocês também vão ter que trabalhar comigo”, finalizou.

Vagas no Postal Saúde viraram cabide de emprego para políticos

Janaína foi indicada para o posto em junho de 2024. O ministro das Comunicações (a quem os Correios são subordinados), Frederico Silveira, é apadrinhado do partido de Celso Sabino, o União Brasil.

Os escritórios do Postal Saúde viraram um cabide de empregos em todos os estados. O plano de saúde movimenta bilhões de reais por ano e recebe aporte mensal dos Correios de R$ 100 milhões.

Somente em 2024, a operadora destinou R$ 2 bi para procedimentos médicos dos seus 202 mil participantes.

No governo Lula, os Correios voltaram a registrar prejuízo, o que pode causar a demissão do presidente da estatal, Fabiano Silva dos Santos. Ele está de licença médica. Sua vaga é cobiçada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), também do União Brasil.

Advogado vê abuso de autoridade de funcionária

O advogado eleitoral Ricardo Porto disse à coluna que constranger funcionários a trabalhar para um determinado candidato pode significar abuso de autoridade funcional e constrangimento ilegal e resultar na impugnação de uma candidatura, mesmo que seja um fato anterior ao período eleitoral.

“É claramente uma conduta vedada, que pode ter consequências eleitorais”, disse.

A assessoria do ministro Celso Sabino não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Procurada, Janaína primeiro disse não se recordar de orientação nesse sentido. “Não estou sabendo dessa informação. Até porque não foi passada essa informação para a minha equipe.”

Informada de que a coluna obteve um áudio (enviado para ela pela reportagem), declarou: “Eles têm livre arbítrio para trabalhar (na campanha). Não cabe nenhuma ameaça aos trabalhadores do Postal Saúde, tendo em vista que toda a força de trabalho foi composta por processo seletivo realizado pelo órgão”. “Não há de se pensar em campanha eleitoral há mais de 1 ano do período das eleições. Não houve e nunca haverá esse tipo de vínculo.”

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