Gerente do Postal Saúde, dos Correios, disse ter conversado com ministro para manter empregos, “porém, terão que trabalhar na política”
A coluna teve acesso ao áudio enviado por Janaína no grupo de WhatsApp dos funcionários do Postal Saúde-PA, em 23 de dezembro de 2024. Ela relata a conversa que teve com o ministro Celso Sabino.
“Então, essa é a parte ruim. Por quê? Esse primeiro ano (2025), a gente vai trabalhar normal. Vamos fazer política e tudo. Normal. Porém, ano que vem (2026), a gente não tem dia e não tem hora. Certo? E é isso. A notícia ruim para vocês. Como ele (ministro) falou hoje, a gente é um grupo. A gente está aqui para crescer, mas eu preciso do apoio de todo mundo. Então, a notícia ruim é essa: que vocês não vão ter só a Postal, como vocês também vão ter que trabalhar comigo”, finalizou.
Vagas no Postal Saúde viraram cabide de emprego para políticos
Janaína foi indicada para o posto em junho de 2024. O ministro das Comunicações (a quem os Correios são subordinados), Frederico Silveira, é apadrinhado do partido de Celso Sabino, o União Brasil.
Os escritórios do Postal Saúde viraram um cabide de empregos em todos os estados. O plano de saúde movimenta bilhões de reais por ano e recebe aporte mensal dos Correios de R$ 100 milhões.
Somente em 2024, a operadora destinou R$ 2 bi para procedimentos médicos dos seus 202 mil participantes.
No governo Lula, os Correios voltaram a registrar prejuízo, o que pode causar a demissão do presidente da estatal, Fabiano Silva dos Santos. Ele está de licença médica. Sua vaga é cobiçada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), também do União Brasil.
Advogado vê abuso de autoridade de funcionária
O advogado eleitoral Ricardo Porto disse à coluna que constranger funcionários a trabalhar para um determinado candidato pode significar abuso de autoridade funcional e constrangimento ilegal e resultar na impugnação de uma candidatura, mesmo que seja um fato anterior ao período eleitoral.
“É claramente uma conduta vedada, que pode ter consequências eleitorais”, disse.
A assessoria do ministro Celso Sabino não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Procurada, Janaína primeiro disse não se recordar de orientação nesse sentido. “Não estou sabendo dessa informação. Até porque não foi passada essa informação para a minha equipe.”